segunda-feira, 4 de abril de 2011

Permita-se

Todas as noites o mesmo barulho aparecia e ela não conseguia dormir. Apenas a insônia rondava a vida dela, deixando-a sempre com um olhar cansado, desmotivada de tudo. E não foi diferente nesta madrugada de inverno, noite fria, a chuva desabando lá fora, tudo ao seu redor parecia sombrio. O barulho teimava em permanecer ali, dentro dos seus pensamentos e mais uma vez seus olhos não conseguiam adormecer. Ela não sabia o que era uma noite tranquila fazia um tempo, precisava pelo menos de um dia sequer de sono, de descanso. Esse “fantasma” já fazia parte da sua vida desde a adolescência, desde o último namorado. Um amor mal resolvido, uma história complicada, porém, com planos de futuro, com juras de amor,  com entrega total de corpos suados e desejados mutuamente, com intensidade de olhares e carinhos. Durou anos, mas como qualquer amor, um dia acabou… tiveram que se separar por muitos desentendimentos, gênios diferentes, com tudo isso, a essência da pele continua viva sempre que se viam, se esbarravam, ou quando apenas ouviam o nome de ambos. O tempo foi passando e a distância tomou conta de resolver um pouco a ausência. Porém ela passou a ter essa companhia todas as noites, e não conseguia livrar-se disso, ficava acordada  pensando  e voltando ao tempo, como se aquilo nunca tivesse acabado. Já tinham se passado vários anos e ela vivendo esse pesadelo como se o tempo tivesse estacionado.  A chuva continuava  forte e um relâmpago fez um grande estrondo, clareando seu rosto deitado e seu semblante de menina-mulher, buscando a fuga do seu passado constrangedor.  Já estava quase amanhecendo e ela finalmente conseguiu pegar no sono, que não durou muito pra ter que levantar e começar sua rotina diária. Levantou e viu que já não chovia mais, e que tudo parecia  meio diferente naquele dia. No meio do seu caminho e obrigações, surge um vulto em sua direção e sem que ela acreditasse, era exatamente quem frequentava suas noites todos os dias. Ela gelou, ficou estarrecida, não sabia o que fazer e nem o que falar, seu coração batia descompassadamente. Como ele estava mudado, mais adulto, bem alto e lindo com sempre, aquele amor mal resolvido ali diante dos seus olhos. Ficaram inertes durante um período e depois se abraçaram, se olharam e começaram uma conversa rápida, porém o suficiente pra ela observá-lo na sua mudança de pensamento, de índole e daqueles antigos planos e sonhos que fizeram juntos e que ela ainda acreditava que pudesse concretizar. Era tudo o que ela não queria ter sentido, ter desejado passar, ela ali diante da pessoa que achava que amava, diante do foco centralizador de sua vida. É… só restava apenas se despedir e desejá-lo toda felicidade, nada mais podia ser feito…  Ainda estava chocada com tudo e foi para casa, mais uma noite chegou, porém bem diferente das outras, aquele “fantasma” não apareceu…. E ela conseguiu ter noites de paz e tranquilidade.

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