Incerteza.

Ela: _ Alô?

(Silêncio).

Ela: _ Alô? Tem como responder?

Ele: _ Tudo bem com você?

(Ela ficou muda por alguns segundos).

Ele: _ Sabe quem está falando?

(Como ela não poderia reconhecer aquela voz que sempre lhe trouxe arrepios. É óbvio que ela o conhecia).

Ela: _ Sim, eu sei.

Ele: _ Por que está tão fria?

Ela: _ Você some por meses, diz o que acha certo, me faz sofrer, erra comigo, esquece do nosso amor e como eu devo ficar? Devo te perdoar assim, tão facilmente?

Ele: _ Só queria pedir desculpas.

Ela: _ Desculpas aceitas. Mais aguma coisa?

Ele: _ Queria dizer que te amo e que você é a mulher da minha vida. No dia em que te vi naquela porta, meu coração congelou e foi como se o meu mundo tivesse desabado. Nunca te esqueci. Você é tudo na minha vida. Volta pra mim, por favor?

(Ela queria ter tapado os ouvidos antes que pudesse ouvir todas aquelas juras de amor, que balaçavam seu coração, mas não conseguiu. Assim que respirou, seus olhos se encheram de lágrimas e o coração teria saltado pela boca em segundos, se fosse capaz. Queria ter dito que não. Queria ter enganado seu coração e o feito parar de pulsar, por ele. Mas não o fez. Queria ter dito que não desejava mais vê-lo, mas as palavras não saíram. Queria ter desligado o telefone e ter dado tchau, mas ela só conseguia ouvir aquela respiração, que há tanto se fez ausente. Ela queria ter feito tudo de outra maneira, mas não fez, o coração não quis).

Então, ela disse: _ Tenho medo de me magoar de novo com você.

Ele respirou, engoliu o choro e falou: _ Prometo ser quem eu nunca fui, te dar o que eu nunca te dei, te amar como jamais pensei que poderia amar alguém. Confia em mim?

(O coração já não aguentava de tanta saudade, e respondeu com um sincero sorriso, coberto de lágrimas, o que o corpo e os olhos não podiam negar: [...]


Ela, por fim, disse: _ De que me adianta não querer, quando o meu coração desejar confiar em você?

"Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza."

(Caio Fernando Abreu)